Monserrate, de José Manuel de Vasconelos
Monserrate, de José Manuel de Vasconelos
Monserrate
Este lugar há muito não existe,
Escrevê-lo é pois como
dar braçadas à procura de uma margem
que cada vez mais se afaste de nós.
Sobre eles evocam-se ruínas, um manto neogótico
certo desarvorado orientalismo
no meio de serrados arvoredos e paisagens de meditação.
Fala-se muito em Byron que por aqui soltou o olhar
na esteira de um outro sonhador compatriota
e contempla-se là-bas a várzea verdejante
como o estrangeiro de Baudelaire a nuvem maravilhosa.
Outros, de pendo rmais científico
catalogam espécies vegetais, debitam nomes em latim
mas todos tentam trazer à terra certos raios de luz
para acender as folhas caídas
na manta morta dos dias
e fugir assim da escuridão alucinada em ecos que percutem
como as ondas a falésia firme.
Neste poema porém, como o tempo deixou de contar
e desapareceu na tal margem de reflexos
onde de certo modo tudo se equivale,
ficou apenas o momento em que,
a velha Rolleiflex
te projectou no futuro,
quando desgrenhada pela brisa
e imersa no assombro do lugar
inclinavas a cabeça
na varanda musgosa sobre o vale.