In memoriam Bernardo Pacheco de Carvalho

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In memoriam Bernardo Pacheco de Carvalho

A desaparição súbita e dramática do nosso amigo Bernardo Pacheco de Carvalho obriga a que comecemos esta newsletter com uma evocação que se pretende também uma homenagem.
O Bernardo encarnava um valor que está na base mesma do voluntariado: a doação de si sem contrapartidas, animado que era por qualidades humanas intrínsecas, por uma sólida educação tradicional e pela sua fé cristã. Essa doação de si passava pelas causas a que se dedicava, entre as quais se contava a nossa.
O Bernardo foi um esteio da Associação dos Amigos de Monserrate desde o seu início, tendo servido nos órgãos sociais da associação com todos os seus presidentes: com a Emma Andersen Gilbert, o António José de Mello e a Dinah Azevedo Neves. Também por isso, conheceu os altos e baixos das diversas instituições públicas que geriram Monserrate, tendo com a sua opinião e o seu trabalho, tão sustentado cientificamente quanto firme em questões de princípios, ajudado a sustentar as posições da AAM em momento críticos de relacionamento institucional em que estiveram em causa os interesses de Monserrate, que não os da associação.
 Muitos dos amigos de Monserrate, que conheciam apenas o Bernardo das nossas actividades, não saberiam que ele era um académico com uma carreira internacional, sendo Professor Associado do Instituto Superior de Agronomia, onde exerceu funções desde 1982. Desde cedo dedicou-se à área da Agronomia Tropical e SubTropical, tendo residido no Brasil onde se graduou em Engenharia Agronómica, na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de S. Paulo, instituição onde realizou também o Curso de Mestrado em Economia Agrária, área de estudos a que dedicou o seu doutoramento realizado na Universidade do Minesota, nos EUA.
As suas responsabilidades académicas e profissionais no ISA incluíram o cargo de coordenador executivo do Mestrado em Produção Agrícola Tropical, de Coordenador do Mestrado em Agronomia Tropical e Desenvolvimento Sustentável, de Coordenador da Secção Autónoma de Agronomia Tropical, tendo sido ainda Vice-Presidente e Presidente do então Departamento de Agro-Indústrias e Agronomia Tropical.
Dirigiu a REDISA - Rede de Educação, Informação e Cidadania para a Segurança Alimentar e Desenvolvimento Sustentável e foi coordenador do CIAT-CD - Centro de Investigação de Agronomia Tropical - Cooperação e Desenvolvimento. Associado do Centro de Estudos Tropicais para o Desenvolvimento (CENTROP), a sua vida como cooperante não se esgotava nas questões técnicas mas centrava-se, antes de mais, na preocupação com a melhoria efectiva das condições de vida das populações dos países onde trabalhava através da melhoria das práticas agrícolas e da organização das economias locais. Foi, de resto, nessas funções que a morte o surpreendeu, em Moçambique, onde se encontrava ao serviço do Instituto Superior de Agronomia e da CPLP.
Queremos acreditar que a morte terá aqui, por isso, uma vitória tanto mais efémera quanto as causas a que o Bernardo exemplarmente se dedicou - a transmissão do conhecimento científico em Agronomia, a tradição da caridade da Ordem de Malta, a defesa do património natural e artístico de Monserrate, a cooperação com o mundo de língua portuguesa - continuarão a ser defendidas por colegas, amigos e familiares, estando a sua herança moral devidamente assegurada pela sua mulher Isabel e pelos seus filhos, a quem aqui reafirmamos a nossa amizade.
E se é verdade que perdemos a companhia do Bernardo, não o será menos que ganhámos um exemplo que faz com que a sua memória permaneça connosco e que a sua voz se continue a fazer ouvir na AAM enquanto todos os que o conhecemos nos mantivermos nela.
André Dourado
Direcção dos amigos de Monserrate

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